12 de jul. de 2013

Silêncio, por favor?!

Pelo que me lembre, hoje é o último dia de aulas deste semestre nas escolas estaduais. Só isso pode explicar o barulho horroroso que vem da rua da frente. Isso que eu não moro bem na beira da rua!!! Desde cedo crianças e, principalmente, pré e adolescente não gritam, eles BERRAM!!! Devo ter alguma síndrome que me torna intolerante ao som alto. Pior que a gurizada, hoje em dia, berra como tivessem apanhando, sendo maltratados, espancados. A gente vai ver, pensando que algum bandido, criminoso, tarado os pegou e estão só "brincando". A gente vê na mídia vários casos que nos custam a acreditar de que os vizinhos ou alguém na rua não ouviram os gritos desesperados de alguma vítima de violência mas, neste contexto, se grita tanto atualmente que devem ter pensado: "deve ser os jovens em seus empurra-empurra". Existem momentos de gritaria entre a juventude, normal, muita energia. O que me espanta é que nunca hajam momentos de silêncio ou que a barulhada se prolongue e prolongue. 
Eu que, normalmente, já gostaria de viver afastada e mais perto da natureza nestas horas tenho vontade me mudar HOJE para algum eremitério, caverna, cabana (vá lá, alguns confortos são bons) e ter a maioria dos momentos de paz e silêncio.

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UM POUCO DE SILÊNCIO

Lya Luft – Pensar é transgredir, 2004

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço da sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.
O normal é ser atualizado, produtivo e bem informado. É indispensável circular, ser bem-relacionado. Quem não corre com a manada, praticamente nem existe. Se não tomar cuidado, põem-no numa jaula: um animal estranho.
Pressionados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou por trilhos determinados – como hamsters que se alimentam da sua própria agitação.
Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo ameaça quem apanha um susto de cada vez que examina a sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não «se arranjou» ninguém – como se a amizade ou o amor se «arranjasse» numa loja.
Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Pensamos logo em depressão: quem sabe terapia e antidepressivos? Uma criança que não brinca ou salta ou participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio assusta-nos por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se observa outro ângulo de nós mesmos. Damo-nos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre a casa, o trabalho e o bar, a praia ou o campo.
Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo para além desse que paga contas, faz amor, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais os seus desejos e medos, os seus projetos e sonhos?
No susto que essa ideia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos a casa e ligamos a televisão antes de largarmos a carteira ou a pasta. Não é para assistirmos a um programa: é pela distração.
O silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de vermos quem – ou o que – somos, adiamos o confronto com a nossa alma sem máscaras.
Mas, se aprendermos a gostar um pouco de sossego, descobrimos – em nós e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente negativas.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém me pôs a mão no meu ombro de criança e disse:
— Fica quietinha um momento só, escuta a chuva a chegar.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela nos refazemos para voltarmos mais inteiros ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, dêem-me isso: um pouco de silêncio bom, para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.

4 comentários:

  1. Depois que me mudei para Joinville tive a sorte de sempre morar em lugares silenciosos (tirando alguns carros que passam correndo na rua), na maioria do dia o que mais ouço é o canto dos pássaros (que algumas vezes irritam também, quando a gente quer dormir e eles querem berrar).
    Recentemente aconteceu um caso aqui na cidade que me deixou perplexa, um homem vizinho de uma creche depois de muitas reclamações sobre barulho mandou um email dizendo que resolveria este caso ao modo americano! Ou seja, ele ameaçou matar as crianças!!! Depois disso a maioria das crianças não voltaram mais à escola e esta foi fechada, parece um absurdo mas eu imagino um homem muito nervoso ouvindo gritaria o dia inteiro.
    O meu filho voltou pra casa depois de 6 anos morando fora e voltamos a descobrir que ele é barulhento!!! Não consegue fechar uma porta sem fazer barulho, a Júlia vive reclamando dele!
    Normalmente eu acordo com o som dos passarinhos e um galo cantando ao longe...e a Pink miando no meu ouvido!!! A minha mãe vem na semana que vem e ela sempre diz que o único lugar que ela dorme bem e acorda tarde é na minha casa!
    Beijos
    Laís

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    1. Pois Laís, entre um berro e um passarinho, fico com o passarinho! Quando eu morava em casa, em POA, os passarinhos também abriam o bico e de-lhe cantar, arrulhar, etc...Agora, berro, tipo estão matando a facadas, bah, isso é brabo!
      Será que as pessoas estão barulhentas porque estão ficando surdas? É tanto som alto, tanto fone de ouvido no máximo que talvez seja perda auditiva mesmo!
      Sonho em morar em um lugar silencioso, quando eu for para meu apto (que quero que seja praticamente) definitivo, vou procurar um lugar assim!

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  2. Comentei lá na postagem das "loucas" e agora cheguei aqui.
    Conheces a mansão, mas nem tanto o que acontece em nossa rua. Pois bem, é um inferno, de dia virou estacionamento nos dois lados da via e as pessoas quando estacionam não sabem sair do carro falando normalmente, precisam sair batendo as portas deixando alarmes disparar. Os pedestres que vem das vilas e por aqui passam, ou estão falando ao celular aos berros, ou brigando com crianças, crianças chorando e temos também a fauna aborrecente que retorna da escola fazendo todos os barulhos possíveis, desde os orgásticos até estertores de moribundos.
    Isso que escrevi acima acontece durante o dia e de noite a área da frente já serviu para todas as atividades humanas possíveis.
    E, no meio de tudo como ficam os cachorros da casa? Histéricos. Bom que em menos de um mês estarei procurando um eremitério onde possa levar minha prole canina e felina e ouvir o canto dos bem-te-vis e sabiás sem interferências.
    Bj
    Beth

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    1. Eremitério? Ah, Beth, para de me provocar inveja!!! Ontem achei esta reportagem (http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,38,1532962), bah, e depois vi que a moça está morando em SM!!! Sincronicidades...

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