6 de set. de 2020

Reflexões da pandemia 4

Sou professora e, como tudo nesta fase, estou em teletrabalho. Dou aula em uma instituição pública e, já sabia, mas fiquei muito mais consciente agora: criamos uma geração de mimados e dependentes! Não todos, a maioria. Isto não vale só para alunos, mas para todos. Boa parte das pessoas não quer se esforçar, não faz nenhuma concessão, só quer vantagens. E estas vantagens têm que ser "dadas na boca", de bandeja, sem precisar iniciativa ou trabalho duro. 
Sei que a época é difícil, alguns podem estar enfrentando problemas (doenças em casa, bem sei...) mas, por exemplo, vejam: a professora se coloca à disposição para orientar alunos em dificuldades, com dúvidas, com alguma questão. E ninguém usa deste recurso. Pior, não acontece só comigo, consultei meus colegas e isto está acontecendo em TODAS as disciplinas. Não é específico da pandemia, já acontecia, mas não a este ponto. Daí eu vejo reportagens de jovens, principalmente no interior, que têm que ir para cima de um morro para pegar Internet. Olha o esforço da criatura! E penso que muitas pessoas desperdiçam suas chances, suas oportunidades.
Não, não acho que esteja tudo perdido, até por estes exemplos de pessoas que fazem sacrifícios para estudar. Só penso que são minoria e o ponto chave é este: criou-se uma geração de mimados! Olhem o exemplo das máscaras, que não é só aqui no Brasil. Gente que não quer usar máscara, simplesmente porque ... não quer. Eu gosto de usar? Não, não gosto. Esqueci, duas vezes (!) esta semana de colocar a máscara e tive que subir meus 4 andares, sem elevador, para colocá-la. Também não gosto de escovar os dentes, mas escovo. Assim é a vida. Não é só o que a gente quer ou o que a gente gosta. 
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Outro assunto: decidi ir para uma casa. Não vai ser O sítio, mas vai ser meu "sítio" possível, por enquanto. Tenho que esperar para ver como andam minhas moedinhas e vou. É em um condomínio mais popular, tem jardim e pátio. Já ando planejando minhas plantas e com mais uma horta vertical eu consigo maximizar o espaço. Estou anotando o que mais utilizo para plantar, assim, pelo menos, uma boa parte do que vou comer, vais ser sem veneno.
As peças são pequenas mas, hoje em dia, as construções são assim. E, digo para vocês, por mim, eu morava numa mini casa (tiny house). Não quero salão, tudo tem que ser funcional. Pouca coisa, vida simples, vida leve. Ando assim, viver a vida possível, viver em paz. O resto é o resto.
Espero, ano que vem, já poder postar sobre meu pequeno jardim hehehe
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E, sim, as gatas estão bem. Muito parceiras! É muito deliciosos compartilhar a vida com elas!

Benta, sempre divertida. Ela é pura alegria. Curtindo um sol em nosso inverno no Rio Grande do Sul

Clara Francesca está com um problema nos olhos, na retina. Fez cirurgia e está se recuperando.

23 de ago. de 2020

Reflexões da pandemia 3

Mais alguém está tendo um surgimento de antigas memórias aí?
Gente! Estou lembrando de coisas de muito, mas muito tempo atrás e que estavam lá nas gavetas de baixo da memória.
Algumas lembranças são espontâneas, outras desencadeadas por alguma coisa.
Eu já andava, desde ano passado, tentando lembrar de algumas coisas de infância (com objetivo neuropsicológico), mas quando começou a "Grande Reclusão" comecei mesmo a lembrar: de meu ponto de vista, a guria que adorava o mundo minúsculo (formigas e outros bichinhos e plantas pequenos) de observar o chão de barriga para baixo; lugares nos quais eu morei, perfeitamente; atitudes, coisas que eu fazia; comidas, até o gosto de cada uma etc.
Uns dias atras, pelo Whatsapp, uma amiga me mandou algo sobre "infância raiz", de crianças que fincaram um prego no pé. Imediatamente lembrei de mim, saltando de uma casinha de um fundo de quintal (aquelas onde se guarda as ferramentas de jardinagem) e, de chinelo de dedo, ter pisado em um prego. Eu tinha arquivado esta lembrança. Só a menção do prego, me fez desarquivar.
Isto está acontecendo com mais gente? Será?

9 de ago. de 2020

Reflexões da pandemia 2: artes, pães

Estes dias, sem pão em casa e sem vontade de sair, resolvi fazer pão, depois de séculos sem me aventurar nesta nobre arte.


Costumo acordar de madrugada e estava um dia bem frio. Misturei ingredientes (farinha, fermento biológico, água morninha e um pouco de açúcar), coloquei embaixo da bacia uma panela, também com água morna e, para minha surpresa, a massa cresceu! Sucesso! E eu, bem pasma, porque foi muito fácil.


O primeiro foi com farinha refinada. Ficou com um gosto daqueles pães do interior, de minha infância, que eu já não sentia mais, nem nos pães caseiros que comprei depois.


Comi com azeite de oliva. Se estivesse em um campo, pastoreando, não me sentiria deslocada.


Depois do sucesso inesperado, comecei a ficar abusada e decidi tentar fazer aqueles pãezinhos orientais que são cozidos no vapor. Fui no oráculo (Google) para me informar e testei na madrugada seguinte. Fiquei mais admirada ainda porque deu certo!


Algumas madrugadas depois e já com farinha integral, parti para uma fermentação natural. Farinha, água quase morna e um pouco de mel. Coloquei em um pote, só com a tampa por cima (sem fechar, sem lacrar) e guardei dentro do armário e olhava todos os dias para ver como estava. Dias frios, levou uns 3 ou 4 dias para fermentar. Misturei mais farinha, sovei e deixei crescer (em cima de panela com água morna, inverno, né?). E ... deu certo! Detalhe: não tenho forno, só tenho um fogareiro elétrico de uma boca. Meus pães são assados em frigideira/caçarola, fogo baixo (é boca de cerâmica, não é daqueles que tem resistência elétrica). 


Uma das tantas coisas que a quarentena tem me ensinado, ou reforçado, são as artes caseiras e o reaproveitamento. Aproveito praticamente tudo! Um retorno aos tempos do não desperdício, da paciência, do devagar, de esperar. 

Fermentação natural e recheado com queijo ralado e alecrim

2 de ago. de 2020

Reflexões da pandemia 1

Ok, ok, eu sei que tecnicamente não é este o termo, "quarentena", mas pegou e todos sabemos ao que estamos nos referindo e vou usar assim mesmo.
Enfim, segundo semestre. Continuei meu movimento de simplificação e, de certa forma, purgação. Coisas saindo para fora, física e mentalmente. Parece um acertar o passo de vida. Coisas que estavam no fundo do baú sendo colocadas na luz para se ver o que fazer com elas. Conservá-las ou deixar que se vão? Por exemplo, roupas eu já tenho só o necessário, até porque nunca tive muitas, mas ainda tenho problemas em manter somente as atitudes necessárias hehehe Quando percebo *plaft* (se é este o barulho dos comportamentos inúteis) estou fazendo uma besteira. Vejamos o lado positivo: já percebo quase imediatamente que fiz uma caca. 
Agora é exercício para pensar antes de reagir. Algumas coisas, consigo fazer. Já não sou tão reativa com e-mails, por exemplo (sim, sou fã de e-mails e preciso deles para trabalhar). Recebo, se acho absurdos ou agressivos, deixo repousarem uns dias antes de responder. Antes eu achava que era má educação não responder em seguida. Agora já percebo que é melhor responder com tino, com senso e de forma suave, mesmo que assertiva às vezes.
Este momento também nos faz pensar na impermanência de nossa passagem por aqui. Eu sempre levei a sério a pandemia, mas mesmo que não tivesse levado ela já está chegando perto. Pessoas da minha família pegaram a covid-19. Além disso, outras doenças andaram por aqui, eu digo pequenas alfinetadas da vida. Estranhamente (ou não), estou tranquila. Claro, a doença, a finitude, assustam, mas, não sei explicar bem, na medida do possível algo em mim me leva a enfrentar desta maneira. E a gente pensa no que quer viver e deixar de "legado". Isso me ajudou muito a reorientar minhas prioridades para atividades que eu quero fazer. A gente se perde em um monte de distrações e bobagenzinhas durante o dia a dia, perdendo o foco.
Apesar da situação ser originalmente ruim, podemos fazer do limão uma limonada e, com sorte até uma caipirinha ou limoncello! O que não podemos fazer é perder esta oportunidade única de um mergulho interior em nossa vida e reciclarmos tudo: faxine, organize, reordene, separe, doe, jogue fora, esqueça, reforce, aja, exercite, mude!
Uma boa semana a todes!

27 de jun. de 2020

10 céus para a Chica, de Céus e Palavras

Adoro olhar para o céu e sou uma obstinada observadora de nuvens, sou fascinada por elas. Moro em lugar alto e, de minha janela, consigo ver o sol nascendo. Como costumo levantar cedo, quase sempre assisto a estes espetáculos "de camarote".
Todas as fotos abaixo foram tiradas de minha janela, em meu celular e não passaram por nenhum filtro ou editor de imagens.
Segue esta postagem, como presente, para outra apreciadora dos céus do blog http://ceuepalavras.blogspot.com/.











26 de jun. de 2020

100 dias na Grande Reclusão

Entre 4f e hoje fizeram 100 dias que estou guardando o distanciamento social. Ok, que eu sempre fui introvertida e amo ficar em casa...mas é diferente. Assim como gosto muito de minha casa, também gosto de sair para caminhar ao léu. E isso ficou mais difícil de fazer.
Tanta coisa aconteceu e está acontecendo, que é difícil comentar tudo. Coisas no mundo (pandemia), nos países separadamente (levantes, protestos, manifestações, líderes sem caráter...) e em nosso pequeno entorno.
Nas primeiras 3 semanas, a sensação era uma mistura de pasmo, descrédito e confusão. Eu olhava pela janela e, apesar de não termos adotado o lockdown, nestas primeiras semanas as ruas ficaram vazias, acho que todo mundo estava meio apalermado. Eu lembro mais disso, ficar olhando pela janela, saber da loucura das pessoas atrás de papel higiênico e álcool gel.
Depois, retomei as coisas que eu já vinha organizando, desde as férias e não tinha terminado tudo. Fiz uma limpeza nos livros, nos papéis, comprovantes, coisas da casa. Minimalismo à toda!
Tive baixas, Mel se foi, algumas pessoas (2) da família tiveram AVC, algumas doenças aqui e ali. Agradeço, ainda, porque fora a Mel (que se libertou), ninguém ficou grave. Apesar de que, nesta fase de pandemia, é ruim ir para o hospital, sempre é, mas agora é pior, né?
E, agora, entrei em um período muito produtivo. Estou retomando artigos que estavam pela metade, que eu tinha guardado pastas com idéias e submetendo para publicação.
Fora isso, tenho pensado muito. Que época melhor para pensar do que esta? Fazer uma avaliação geral de nossa vida, tenho me livrado de muitos pesos, muita coisa, material ou espiritual, que eu vinha carregando, em alguns casos, há anos. Revendo amizades, atitudes, comportamentos, metas...
Sei que é um tempo muito difícil para muitos, mas tenho aproveitado a "quarentena" do melhor jeito que posso.
Definitivamente, não sairei mais a mesma. Já estou muito distante do que era.
Espero que todos pudessem aproveitar esta chance. Sei que muitos não aproveitarão, mas não posso tomar o remédio pelos outros. Cada um tem que tomar o seu próprio remédio.
Espero que todos estejam bem e se cuidem! Com saúde não se brinca. Não deixem se contaminar ... por raiva ou idéias negativas. Aproveite este tempo e vamos nos reciclar.

20 de abr. de 2020

Mel se reintegrou ao ronronar da eternidade...

Grande parceira e mestra de minha vida foi para o plano espiritual

Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade!

Gatos não morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato!

Gatos não morrem:
sua fictícia morte não passa de...
uma forma mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem:
rumam a um nível mais alto que eles,
de galho a galho, sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem:
mais preciso, se somem, é dizer que foram rasgar sofás no paraíso.

E dormirão lá,
depois do ônus de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos...

(Nelson Ascher, in 'Parte Alguma')


Mel foi beber da fonte eterna da vida