23 de ago. de 2020

Reflexões da pandemia 3

Mais alguém está tendo um surgimento de antigas memórias aí?
Gente! Estou lembrando de coisas de muito, mas muito tempo atrás e que estavam lá nas gavetas de baixo da memória.
Algumas lembranças são espontâneas, outras desencadeadas por alguma coisa.
Eu já andava, desde ano passado, tentando lembrar de algumas coisas de infância (com objetivo neuropsicológico), mas quando começou a "Grande Reclusão" comecei mesmo a lembrar: de meu ponto de vista, a guria que adorava o mundo minúsculo (formigas e outros bichinhos e plantas pequenos) de observar o chão de barriga para baixo; lugares nos quais eu morei, perfeitamente; atitudes, coisas que eu fazia; comidas, até o gosto de cada uma etc.
Uns dias atras, pelo Whatsapp, uma amiga me mandou algo sobre "infância raiz", de crianças que fincaram um prego no pé. Imediatamente lembrei de mim, saltando de uma casinha de um fundo de quintal (aquelas onde se guarda as ferramentas de jardinagem) e, de chinelo de dedo, ter pisado em um prego. Eu tinha arquivado esta lembrança. Só a menção do prego, me fez desarquivar.
Isto está acontecendo com mais gente? Será?

9 de ago. de 2020

Reflexões da pandemia 2: artes, pães

Estes dias, sem pão em casa e sem vontade de sair, resolvi fazer pão, depois de séculos sem me aventurar nesta nobre arte.


Costumo acordar de madrugada e estava um dia bem frio. Misturei ingredientes (farinha, fermento biológico, água morninha e um pouco de açúcar), coloquei embaixo da bacia uma panela, também com água morna e, para minha surpresa, a massa cresceu! Sucesso! E eu, bem pasma, porque foi muito fácil.


O primeiro foi com farinha refinada. Ficou com um gosto daqueles pães do interior, de minha infância, que eu já não sentia mais, nem nos pães caseiros que comprei depois.


Comi com azeite de oliva. Se estivesse em um campo, pastoreando, não me sentiria deslocada.


Depois do sucesso inesperado, comecei a ficar abusada e decidi tentar fazer aqueles pãezinhos orientais que são cozidos no vapor. Fui no oráculo (Google) para me informar e testei na madrugada seguinte. Fiquei mais admirada ainda porque deu certo!


Algumas madrugadas depois e já com farinha integral, parti para uma fermentação natural. Farinha, água quase morna e um pouco de mel. Coloquei em um pote, só com a tampa por cima (sem fechar, sem lacrar) e guardei dentro do armário e olhava todos os dias para ver como estava. Dias frios, levou uns 3 ou 4 dias para fermentar. Misturei mais farinha, sovei e deixei crescer (em cima de panela com água morna, inverno, né?). E ... deu certo! Detalhe: não tenho forno, só tenho um fogareiro elétrico de uma boca. Meus pães são assados em frigideira/caçarola, fogo baixo (é boca de cerâmica, não é daqueles que tem resistência elétrica). 


Uma das tantas coisas que a quarentena tem me ensinado, ou reforçado, são as artes caseiras e o reaproveitamento. Aproveito praticamente tudo! Um retorno aos tempos do não desperdício, da paciência, do devagar, de esperar. 

Fermentação natural e recheado com queijo ralado e alecrim

2 de ago. de 2020

Reflexões da pandemia 1

Ok, ok, eu sei que tecnicamente não é este o termo, "quarentena", mas pegou e todos sabemos ao que estamos nos referindo e vou usar assim mesmo.
Enfim, segundo semestre. Continuei meu movimento de simplificação e, de certa forma, purgação. Coisas saindo para fora, física e mentalmente. Parece um acertar o passo de vida. Coisas que estavam no fundo do baú sendo colocadas na luz para se ver o que fazer com elas. Conservá-las ou deixar que se vão? Por exemplo, roupas eu já tenho só o necessário, até porque nunca tive muitas, mas ainda tenho problemas em manter somente as atitudes necessárias hehehe Quando percebo *plaft* (se é este o barulho dos comportamentos inúteis) estou fazendo uma besteira. Vejamos o lado positivo: já percebo quase imediatamente que fiz uma caca. 
Agora é exercício para pensar antes de reagir. Algumas coisas, consigo fazer. Já não sou tão reativa com e-mails, por exemplo (sim, sou fã de e-mails e preciso deles para trabalhar). Recebo, se acho absurdos ou agressivos, deixo repousarem uns dias antes de responder. Antes eu achava que era má educação não responder em seguida. Agora já percebo que é melhor responder com tino, com senso e de forma suave, mesmo que assertiva às vezes.
Este momento também nos faz pensar na impermanência de nossa passagem por aqui. Eu sempre levei a sério a pandemia, mas mesmo que não tivesse levado ela já está chegando perto. Pessoas da minha família pegaram a covid-19. Além disso, outras doenças andaram por aqui, eu digo pequenas alfinetadas da vida. Estranhamente (ou não), estou tranquila. Claro, a doença, a finitude, assustam, mas, não sei explicar bem, na medida do possível algo em mim me leva a enfrentar desta maneira. E a gente pensa no que quer viver e deixar de "legado". Isso me ajudou muito a reorientar minhas prioridades para atividades que eu quero fazer. A gente se perde em um monte de distrações e bobagenzinhas durante o dia a dia, perdendo o foco.
Apesar da situação ser originalmente ruim, podemos fazer do limão uma limonada e, com sorte até uma caipirinha ou limoncello! O que não podemos fazer é perder esta oportunidade única de um mergulho interior em nossa vida e reciclarmos tudo: faxine, organize, reordene, separe, doe, jogue fora, esqueça, reforce, aja, exercite, mude!
Uma boa semana a todes!