9 de jan. de 2016

Um gato que cai

Eis uma história complicada de contar, mas lá vou eu: sábado, dia de faxina, estou eu limpando o banheiro das gatas e ouço um miado. Mas miado, daqueles do fundo da garganta. Pensei que podia ter ouvido errado, porque alguns choros de crianças parecem miados e vice-versa. Imaginei que podia ser um gato no corredor de algum dos prédios porque o barulho ecoava. Tentei ignorar, sabem como é,  dali a pouco estaria com mais um resgatado e não tenho espaço para isto...nem dinheiro, atualmente.
De repente escuto a voz de uma das crianças que brincam na pracinha:"...bombeiros...vai cair..." assim mesmo, palavras soltas. Olhei na janela e umas, quase, dez meninas estavam lá embaixo olhando para o alto do prédio ao lado.
Nem sei como a gente raciocina nestes momentos, tudo é muito rápido, peguei um edredom e uma casinha das gatas, coloquei a primeira roupa que vi e desci.
TINHA UM GATO, NA BEIRADA DE UMA JANELA BASCULANTE DO QUARTO PISO, MIANDO DESESPERADAMENTE!
Olhem o detalhe: a janela tem rede de proteção, mas, pelo que pude perceber, com ganchos muito separados e bem solta, bem frouxa.
As meninas só gritavam, aliás, o maior barulho da pracinha são estas quase pré-adolescentes e seus gritos, mas todas preocupadas com o gato. Tinha mais umas 3 vizinhas que, na emoção do momento, mal sei quem são. Nos engajamos em ação conjunta para salvar o gato. Vizinhos foram no zelador que nada fez ("plasta"), outros chamaram os bombeiros pelo telefone e nós, lá embaixo, estendemos o edredom. Se o gato caísse, ao menos as chances de se machucar diminuiriam. Onde ele estava tinha, no andar térreo, uma cerca de ferro e forramos onde tem umas pontas, pelo menos empalado ele não seria. Meu medo é que ele quebrasse alguma coisa se caísse, pensava em gatinhos que já vi, de maxilar quebrado (não sei bem porque, mas pensava no maxilar...).
Verificamos todas as possibilidades: alguém bateu na campainha? Sim, ninguém respondia, tinham saído. Foram realmente falar com zelador? Sim, mas o paspalho não entendeu a gravidade da situação. Chamaram os bombeiros? Sim, mas na escassez de efetivo de agentes da lei que estamos, xi, ia demorar muito tempo até que eles chegassem, se chegassem.
Eram gurias gritando de um lado, outras pularam a cerca para pegar na outra ponta do edredom (eu segurava um lado), uma vizinha trouxe mais um edredom para colocar nas pontas de ferro, tinha uma menina gordinha (olha eu, falando sobre meu próprio povo) dizendo "pula gatinho, pula", enfim, parecia um filme italiano ou a vila do Chaves: zona!
O gato, lindo, mas no extremos de suas forças, com "meio metro" de língua de fora, arfava de estresse. E miava. Sair ele soube, mas não conseguia entrar pela rede e pela basculante. E pior, de vez em quando arriscava um malabarismo na tentativa, desesperada, de entrar. E escorregava uma pata,  gritos das meninas e eu dizendo para não gritarem que assustavam mais ainda o bichano. 
Eu só rezava para ele cansar e ficar na beirada, quieto, até o socorro chegar (de novo: se chegasse). Em uma destas viradas, o coitado de tão esgotado, fez xixi, imaginem nós lá embaixo, sem comentários...
Uma das vizinhas disse que ele estava mais em uma ponta, menos protegida por um dos edredons e estendemos o outro para proteger aquele canto. Olha, foi uma questão de menos de um minuto e o gato se mexe, fica pendurado e CAI, daquele mesmo canto.
Caiu e foi amortecido, quicou no edredom, quase peguei e ele saiu como uma bala para dentro do edifício e subiu as escadas.

Clara Francesca: eu sei que tem alguma coisa no banheiro...ouço barulhos! Eu sei que tem, eu sei!
Infelizmente, as meninas saíram gritando atrás e eu tentando fazê-las serem menos...histéricas porque sei o quanto isto é apavorante para o gato. Queria ter certeza de que ele não se machucara. Ele estava encostado na porta do apartamento, arfando. Tentou se defender, mas estava tão cansado que consegui colocá-lo na caixa de transporte. Falei com o vizinho de porta, que nos informou que os moradores do apartamento do gato voador não estavam, no momento, em casa. Disse que eu iria ficar com ele e que fossem lá em casa quando chegassem.
Dali por diante, fui acompanhado de um séquito de meninas, coloquei o gato no banheiro, deixei água e fechei a porta.

Toda a tropa em alerta
As gurias "vistoriaram" minha casa ("olha, quanta coisa de gato!", "a senhora é veterinária?", "minha vó tem um periquito" etc.), apertaram o que puderam a Mel e a Benta (Clara detesta estranhos, foge) e foram embora.
Tempos depois, batem na campainha, mais umas meninas para "visitarem" o gatinho, eu disse que ele estava bem, mas que não iria ficar abrindo a porta do banheiro, que ele precisava descansar.
Na terceira visita, acabei com a festa, estava em plena limpeza e o gato precisava era de paz e silêncio.

Nem o edredom no qual o gato caiu se livrou de uma boa revista
Deixei o gato, mais ou menos, 1h30 no banheiro. Depois que eu já não ouvia o barulho dele arfando, abri a porta, abri a caixa de transporte e um ser super doce se mostrou. Já calmo, olhos azuis, cinza claro com branco, sem demonstrar medo e com passos lentos, deu uma explorada no banheiro. Troquei a água, dei um punhado de ração (comeu) e escovei (ele adorou, até ronronou). Depois deitou em um dos tapetes do banheiro, se esticou e relaxou. Saí, ele não fez barulho e, por milagre, as gatas não forçaram a porta, só ficaram espiando, por baixo.
Demorou bastante, mas o dono, um rapaz bem jovem, surgiu, agradeceu milhões e levou o Sheik ou Shake. Quando entramos no banheiro o gato estava DENTRO da caixa de transporte, descansando. Não queria muito sair e eu ofereci, várias vezes para que levasse a caixinha de transporte e me devolvesse depois. O tutor achou que poderia levar no colo, que não precisava e, realmente, o gato é bem manso, mas não contavam com a horda de meninas gritantes em volta ("ai, que amor o gatinho, deixa eu ver, AHHHH"), no corredor. Pois o Sheik ou Shake, diante do histerismo de sua plateia, foi para o chão e...queria voltar ao meu apartamento (momento de ternura da Cris...óóóó). Fiquei observando a ida dele para a casa e o tutor é bem paciente, colocava no chão quando o gato se apavorava das crianças, não espremia, dava um tempo e colocava de novo no colo.
Dei uns conselhos sobre as telas de proteção, para usar ganchos mais próximos e esticar a rede mais firme.
UFA! E dizem que dia de faxina é chato!


7 comentários:

  1. Caráca, Cris!!!! Que aventura, heim?! E super bem contada! Senti medo, raiva, gratidão... tadinho do Sheik, ou Shake! Ele era novinho? Deve ter perdido uma, das sete vidas nesta história, não?! rererer Que bom, que tudo acabou bem!

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  2. Oh my gosh, what a day! It must have been so scary for everyone, especially the kitty! So glad he is OK...his human must be really thankful to you!
    Ordinary cleaning day turned into such an exciting day. I hope you got to have a relaxing Sunday :-)

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  3. Oi Cris, que historia hein? Adorei o desfecho, ainda bem que o gatinho venceu os gritos da garotada e a queda. Os gatinhos devem adorar a sua casa(e deles) com tantos atrativos, aqui o meu Tupã usa todos os cantos que você possa imaginar, dele mesmo especifico só a caminha mesmo.
    Beijos e um ano que começa cheio de coisas boas.

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  4. Que loucura!!! Foi uma estória pra contar pro resto da vida! Acho que ele perdeu uma vida nessa brincadeira mas ainda restam 6! Queria tentar atualizar o blog mas meu notebook morreu com milhares de fotos e agora só uso o celular! Vou tentar passar umas fotos para o note da Julia! Beijos da Laís e Fiona

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  5. kkk nossa que dia de limpeza hein?
    Um certo dia aqui pelo sítio um filhote subiu no abacateiro;
    quando fui tirá-lo veio uma jaguatirica daquelas! tem que ver... era a mãe
    saí de fininho e deixei pra lá mas fiquei observando... demorou algum tempo
    mas a mãe conseguiu resgatá-lo. Pelo menos por aqui nunca mais chego perto de filhotes aflitos kkk. Eles nunca estão a sós. Geralmente o animal adulto pede ajuda
    quando não consegue tirar; assim diz os sitieiros... mas vá eu saber... kkk.
    Boa semana.

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  6. kkk nossa que dia de limpeza hein?
    Um certo dia aqui pelo sítio um filhote subiu no abacateiro;
    quando fui tirá-lo veio uma jaguatirica daquelas! tem que ver... era a mãe
    saí de fininho e deixei pra lá mas fiquei observando... demorou algum tempo
    mas a mãe conseguiu resgatá-lo. Pelo menos por aqui nunca mais chego perto de filhotes aflitos kkk. Eles nunca estão a sós. Geralmente o animal adulto pede ajuda
    quando não consegue tirar; assim diz os sitieiros... mas vá eu saber... kkk.
    Boa semana.

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É muito bom ler outras pessoas participando aqui mas, por favor, eu também quero comentar: retirem a verificação de palavras do blogue de vocês!
Obrigada!